domingo, 25 de março de 2012

Ciências na Sala de Aula

           “Eu detesto física!” Quantas vezes você já ouviu essa frase?
           Talvez você mesmo já tenha dito isso!
        De qualquer modo, é fato que muitas pessoas (confesso que me assusta pensar que pode ser a maioria) têm aversão pelas matérias ligadas às ciências, como física, química, biologia, matemática e todas as “derivadas”.
      O que assusta nesta constatação é saber que o desenvolvimento de qualquer país, para ser solidamente construído, depende das carreiras de ciência e tecnologia. Não se constrói um país de primeiro mundo apenas com jogadores de futebol, jornalistas, filósofos, advogados, sociólogos, antropólogos, políticos, economistas, artistas e outras carreiras de humanas. Certamente essas são carreiras essenciais para o cenário completo do desenvolvimento. A nossa própria carreira, como educadores, está contida na área de humanas. Contudo, a transformação de conhecimento em produtos de alto valor agregado, incentivando a pesquisa, as inovações, a geração de empresas e empregos no país, precisa necessariamente de um percentual expressivo de profissionais da ciência e da tecnologia. Precisamos de engenheiros, físicos, químicos, biólogos, médicos, etc.
Mas o fato é que definitivamente existe uma aversão dos jovens pelas aulas de ciências! E essa ideia, carregada e ampliada ano após ano no ensino fundamental e médio, gera menos optantes pelas carreiras de C&T no ensino superior!
Temos um problema nas mãos que potencialmente, em escala nacional, pode comprometer o próprio desenvolvimento do país em futuro próximo. Aliás, esse efeito de falta de interesse pelas carreiras de C&T também aconteceu aqui nos Estados Unidos, o que incentivou a criação imediata dos programas STEM (Science, Technology, Engineering, and Math), que trouxeram mais dinâmica e interesse para a educação nessas áreas.
Como todo problema, devemos começar pela reafirmação do objetivo, depois pela identificação dos fatores contribuintes para a deficiência e, finalmente, pelo desenvolvimento e aplicação de ações corretivas (soluções).
Nosso objetivo é aumentar o interesse dos alunos pelas aulas relacionadas às ciências e, assim, contribuir para uma maior procura pelas carreiras de C&T. No momento temos o fato da aversão dos jovens pelas matérias de ciências.
Certamente fazem parte dos fatores contribuintes para o problema observado: pouca divulgação científica nos meios de comunicação, desprestígio da carreira de professor, o que contribui para o despreparo desses profissionais nas áreas da ciência, especialmente daqueles que trabalham na formação básica, e a falta de ferramentas e métodos mais adequados para apresentar os assuntos relacionados às ciências nas salas de aula, laboratórios... e fora deles!
A solução para esse problema pode passar por diversos caminhos e estágios, e faz parte de longas e frequentes discussões hoje em dia. Portanto, o que apresento aqui são apenas algumas considerações para “colocar lenha na fogueira” das ideias e contribuir de alguma forma para atingirmos o nosso objetivo. Essas considerações foram levantadas durante os estudos para implantação de programas de incentivo à ciência no ensino fundamental da Fundação Astronauta Marcos Pontes.
Inicialmente, observe que não são necessários equipamentos caros ou métodos complexos para ganhar o interesse dos jovens por algum assunto de ciência e tecnologia.
O professor tem, como sempre, enorme influência no processo.
O estilo de aula baseado na transcrição de teoria e equações no quadro negro, mesmo acompanhada de músicas ou outros “recursos de memorização”, pode funcionar para provas de vestibular, mas não é nada eficiente para o aprendizado. É preciso fazer o assunto (incluindo as equações) sair do 2D no quadro para o 3D na vida e nas mãos dos alunos. O assunto tem que ganhar “corpo”, justificar sua existência e limites como teoria que tenta modelar princípios e fenômenos naturais do dia a dia. Cada parte de uma equação, cada conceito envolvido, tem uma história por trás, uma razão de ser, uma possível emoção a ser associada, e isso é mais relacionado com a nossa vida do que livros e expressões matemáticas.
“A imaginação é mais poderosa que o conhecimento”. Isso foi dito por alguém de grande sabedoria. Podemos complementar com “A imaginação é parte essencial da motivação para o conhecimento”.
Observe que a imaginação é ligada às duas emoções que estão na raiz da motivação de todas as nossas atividades: o medo e o prazer. A imaginação é ligada ao medo quando percebemos uma “necessidade” e precisamos “imaginar” alternativas, e ao prazer quando buscamos maneiras de vencer os desafios para saciar nossa  “curiosidade”.
Interessante! Se juntarmos essas ideias aos fatos de que sempre aprendemos por associação, de que a emoção intensifica as associações e de que encontrar prazer frequentemente na mesma atividade gera hábito, podemos começar a encontrar maneiras de transformar o aprendizado de ciências em algo mais prazeroso, interessante, marcante e frequente na vida dos alunos.
Já que o medo atrapalha o aprendizado amplo, pois focaliza a atenção  e inibe a extrapolação de conceitos (ninguém aprende realmente sob pressão, e cada um aprende à sua maneira), talvez a chave que procuramos esteja na “curiosidade”. Note que a curiosidade, acompanhada de desafios vencidos, gera prazer, que gera imaginação, que gera mais curiosidade, que gera mais prazer a cada descoberta... e assim por diante. Isso! É bem possível que esse ciclo gere o hábito bom pela pesquisa que, em última instância, conduzirá o aluno à busca pelas carreiras de C&T!
Mas como gerar curiosidade?
Novamente: o professor tem, como sempre, enorme influência no processo. Contudo, não se esqueça que temos três “níveis” ou “tipos” de matérias relacionadas à ciência e tecnologia: 1- Ferramentas, como matemática, desenho técnico, desenho artístico, história da ciência, metodologia científica, etc.; 2- Conhecimento básico, como física, química, biologia, etc.; 3- Aplicações, como eletrônica, aerodinâmica, neurologia, meteorologia, programação, agronomia, etc.
Já notou como a maioria dos jovens “vivem” tecnologia (aplicações) e aprendem rapidamente como usá-la (mesmo sem ler o manual)? Já notou como parte da motivação vem do prazer de “descobrir” e compartilhar com os amigos, como maneira de afirmação emocional? Tudo isso pode ser usado!
Observe que as matérias ligadas às aplicações, incluem sistemas e equipamentos “legais” de montar, desmontar e operar, como rádio amadores, robôs, sensores, etc., que são todos multidisciplinares com relação às matérias de conhecimento básico e ferramentas. Então... somando tudo isso...
Talvez pudéssemos incentivar mais a criação de clubes, competições e feiras de ciência; talvez pudéssemos colocar mais nas mãos dos alunos os desafios de construir, aperfeiçoar e modificar algumas dessas “aplicações legais”, mesmo de forma rudimentar e sem a base de conhecimento completa; talvez pudéssemos incentivar mais a utilização dos recursos de pesquisa (incluindo os professores, livros e internet) para acharem suas respostas e soluções para vencer seus desafios; talvez pudéssemos nos preparar melhor e fazer as “conexões” corretas com as matérias e histórias “por trás” das equações e conceitos à medida que nos procuram para suas soluções; talvez pudéssemos inverter a direção usual: em vez de sair do quadro para o laboratório, sair do laboratório para o quadro.
Talvez pudéssemos? Não! Nós podemos! E felizmente já vejo muitos educadores fazendo exatamente isso. E você? O que tem feito?

7 comentários:

  1. Olá Marcos Pontes!
    Sou uma professora de ensino fundamental e gostei muito das colocações que você faz no post. Mas gostaria muito de discutir um ponto que é sempre levantado pelos professores: "o interesse dos alunos".
    Tenho visto que a cada dia mais, as dificuldades como a falta de interesse dos alunos, e outros conflitos que tem como arena a escola e a sala de aula, tem sido atribuídos somente ao ensino e aos professores. E isso é um equívoco muito grande.
    Quando ensinamos no ensino fundamental, até o 5º ano, os conhecimentos são muito mais "fáceis" de serem vivenciados, construídos. Já com a partir do sexto ano, a segunda metade do Ens. Fundamental, depois o Ensino Médio e assim por diante, os conteúdos conhecimentos começam a ficar um pouco mais densos e exigem mais abstração e esforço dos alunos e também dos professores para ensinar. A gente sabe que nem todo o conhecimento dá pra aplicar no dia a dia, me lembro bem daqueles exercícios de matemática no 1º ano do Ens. Médio, "matrizes e determinantes", que eu não via nenhuma utilidade no dia-a-dia. Mas uma coisa eu tinha pra mim: eu não sabia ao certo porque estudava e entendia aquilo, mas eu sentia muita satisfação quando aprendia e sabia que um dia, lá na frente, me seria útil para passar num vestibular, ou se eu gostasse desses "esquemas" pudesse seguir estudando na faculdade de matemática, e hoje eu sei que muitas coisas na vida a gente abstrai antes e entende muito tempo depois, ou talvez não entenda. O importante é que o caminho seja aberto, deixemos a experiencia da vida nos encaminhar e que possamos também aprender a escolher os bons caminhos. Pode ser que muitas crianças hoje em dia tenha estímulos mil por conta da tecnologia empírica, mas sua experiencia, mais do que nunca, nos mostra que ESFORÇO, PERSISTENCIA e muito TRABALHO é que solidifica os inventores e grandes cientistas. É isso que nossos alunos de todo o Brasil, precisam aprender a experenciar. O estudo nos exige uma postura e nem sempre nos encontramos numa situação prazeirosa ou de conforto quando estudamos. É muito diferente do pensamento de muitos teóricos que dizem que o estudo tem que ser prazeiroso todo o tempo. E não é. Isso se chama diversão e estudo não se limita a isso. Enquanto somos crianças e talvez adolescentes, o conhecimento pode vir mais "mastigadinho", mas depois, a corda aperta, assim como em todo o processo da vida... o passaro se lança do ninho pra aprender a voar, e não é fácil, dá muito MEDO. Então entra o ESFORÇO para bater as asas, PERSISTENCIA E TRABALHO para aguentar firme no vôo e muita curiosidade e disciplina pra plainar, encontrar correntes de ar quente, saber a hora de pousar, encontrar os montes mais altos, etc. Fica minha contribuição, de uma simples professora, do interior... abraços!

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  2. Olá, Marcos Pontes! Admiro muito seu trabalho e seu caráter, mas ainda não conhecia seus artigos. Gostei muito do que encontrei.
    Por gentileza, onde fica a Fundação Astronauta Marcos Pontes?

    Rosely.
    Estudante de Pedagogia
    Unifesp

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    1. Oi Rosely,
      A FUndação fica em São Paulo. No semestre que vem abriremos uma sede em Boa Vista, para a preparação e formação de profissionais e gestores do projeto Eco-Estado.
      ABS
      Marcos

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  3. você ainda é militar da ativa ou ja é reformado?

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    1. Caro José,
      Como a maioria dos Astronautas com background militar, não sou nem da ativa nem sou reformado. Sou da Reserva. Isto é, posso ser chamado a qualquer momento pelo Governo para ser, por exemplo, Comandante da Aeronáutica. Observe que a Carreira de Astronauta é Civil (a AEB é civil, a NASA é civil, etc.). Leia meu livro "Missão Cumprida. A história completa da Primeira Missão Espacial Brasileira" para saber mais detalhes da minha história de vida e profissional, assim como minhas atividades atuais e possibilidades do segundo voo espacial.
      ABS
      Marcos Pontes

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  4. Olá Marcos, sou teu fã, quando pequeno meu sonho era ser astronauta, mas deixei este sonho para meu filho. Por isso qual o caminho ele deve seguir até chegar a ser um astronauta assim como você?

    Sou Antonio Franco de Sergipe, professor de Química do ensino médio.

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  5. Sr.Marcos Pontes eu tenho uma pergunta que é se você já realizou todos os seus objetivos?

    E mais uma coisa eu tenho um blog é assim www.superhomem-aranha.blogspot.com

    Eu sou aquele menino que estava no shopping Penha de SP que fez um desenho/trabalho escolar sobre o primeiro astronauta Brasileiro a ir ao espaço.

    Fiquei muito feliz em ficar ao seu lado.

    Abraço

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