quarta-feira, 9 de novembro de 2011

DIAS DE POUCA EDUCAÇÃO NO CAMPUS...


Liberdade e Responsabilidade

Professor Marcos Pontes
Astronauta Brasileiro

Sejamos didáticos. Comecemos por um princípio natural. Sabe aquelas leis do universo às quais tudo e todos estamos sujeitos, sempre? Coisas como a atração gravitacional e a tendência dos sistemas naturais procurarem por um ponto de equilíbrio estável, sempre com a menor energia possível? Pois é! Leia a frase anterior novamente e observe que essa segunda lei, a que fala sobre a energia, é perfeitamente aplicável ao comportamento humano! Aliás, a inserção do homem e seu comportamento nos ciclos e princípios da natureza é um assunto magnífico para acalentar pensamentos mais saudáveis e conceituações teóricas nos verdadeiros filósofos.
Bem, esse não é o meu caso. Sou engenheiro e penso de maneira prática: simplesmente usemos o tal princípio – nós, humanos, sempre procuraremos por uma situação em que tenhamos um patamar estável, segundo nossas expectativas de qualidade de vida, e com o mínimo gasto possível de energia.
Expandindo a ideia, nos parece “natural” buscar sempre pelos nossos direitos e frequentemente (ou “convenientemente”) “esquecer” dos nossos deveres. Mais ainda, todos querem ter liberdade, mas ninguém quer a tal da responsabilidade.
OK! Com esses conceitos essenciais em mente, vamos a uma outra afirmação, aparentemente sem conexão no momento: não existem “bens do governo”.
Já ouviu algumas pessoas dizerem algo como: “esta é uma escola do governo”?
Isso não existe!
O que existem são “bens públicos”, adquiridos com o percentual retirado continuamente do nosso suado dinheiro, uma contribuição obrigatória de todos nós que trabalhamos e pagamos altos tributos por não fazermos parte de nenhuma “minoria privilegiada”, algumas vezes composta por criminosos, outras por pessoas que se “encaixam” nos critérios de alguma legislação que os “discrimine positivamente” perante o restante dos compatriotas.
Nesse contexto, em que se pesem nossos bens comuns como estradas, pontes, escolas, universidades, etc., as autoridades eleitas, e que constituem o “governo”, são apenas nossos funcionários, representantes temporários do povo, para gerenciar o patrimônio público, evitar que sejam destruídos, mal empregados ou tomados pela força, ou “pelo grito”, de uma ou outra minoria.
Lembrem-se de que um grupo de “solicitantes” não tem nenhum direito de decidir o que será feito com o bem público, de propriedade de 200 milhões de brasileiros.
O que vale não é o que uma ou outra minoria acha que se deve fazer com qualquer dos nossos bens públicos; o que vale é o que o povo do Brasil decide. E, para isso existem as leis e os representantes eleitos! Tudo conforme o previsto. Veja bem, o “governo” não é dono de nada, o povo é. Mas as autoridades eleitas têm o dever de defender o patrimônio do povo de inimigos externos e internos e fazer cumprir as leis. Ponto! Doa a quem doer.
Não é possível governar para atender os interesses de minorias, é preciso atender o interesse da nação como prioridade. Bem diz o ditado: quem quer satisfazer a todos, desagrada a maioria!
Em outras palavras, qualquer pessoa, de qualquer grupo, minoria ou não, deve cumprir as leis, como todos os outros cidadãos.
Pois bem. Agora somando as ideias...
Parte dos recursos dos nossos impostos são aplicados na educação. E o que nós, que somos os “stakeholders” que pagam por tudo isso, esperamos que seja feito com o nosso investimento nos bens e serviços públicos na educação? Isto é, o que o povo (pelo menos a maioria mais inteligente dele) espera que seja feito com todo esse dinheiro investido nas nossas escolas e universidades.
Certamente queremos que o ensino fundamental nas escolas públicas seja de qualidade suficiente para dar às crianças uma boa base de conhecimento nas matérias curriculares essenciais, que servem de fundação para as aplicações profissionais mais específicas; para ajudá-las a compreender seu significado e responsabilidades como indivíduo e cidadão na sociedade; e para contribuir para a preparação emocional necessária para enfrentar as mudanças e decisões comuns da adolescência. Dos alunos das escolas públicas do fundamental, esperamos que estejam nas salas de aula, tenham disciplina e se dediquem com afinco para se tornarem mais “iluminados através do conhecimento de si mesmos e do mundo que os cerca”.
Do ensino médio, queremos que sirva de preparação e direcionamento para as carreiras profissionais a serem desenvolvidas nas universidades. Dos alunos do ensino médio, esperamos que descubram seu potencial e se concentrem no seu desenvolvimento pessoal e profissional... e passem no “tal do vestibular” de alguma universidade pública! Afinal, faz sentido alunos de escolas públicas continuarem em universidades públicas, não faz?
Do ensino superior, queremos pesquisa, conhecimento ampliado, ciência e tecnologia, tudo aplicado ao desenvolvimento do país e à melhoria da qualidade de vida da população, que, repito, paga por tudo isso! Dos alunos das universidades públicas, esperamos que compareçam às aulas, sejam disciplinados e, no mínimo, educados no seu comportamento como hóspedes do nosso patrimônio público; que usem o seu tempo nessas instituições de forma produtiva e objetiva para concluírem de forma eficaz seus cursos (com sucesso e qualidade máximos e tempo mínimo); que se formem bons profissionais, sérios e competentes, para atender às necessidades da nação. Também esperamos que cumpram as leis, dêem o exemplo e preservem o patrimônio pago, repito, com o suor de milhões de brasileiros; que tenham o bom-senso de perceber que estudar em uma universidade pública é um privilégio que muitos estudantes do ensino médio público sonham ter e que a vaga que ocupam, que é uma “concessão” do povo, deve ser usada de forma digna e agradecida, pois não é um direito adquirido e muito menos irrevogável; que não se omitam socialmente, expressando suas opiniões como pessoas inteligentes e se unindo para defender interesses legítimos da maioria da nação, como o fim da corrupção, o voto e a democracia consciente, a igualdade e a liberdade com responsabilidade e respeito às leis, etc.
No infeliz episódio na USP no mês de novembro, disparado por um evento com dois estudantes, envolvendo uso de entorpecentes ainda proibidos pela lei e desenvolvendo-se em protestos contra a gestão da universidade, o prédio da reitoria foi ocupado por uma minoria de alunos que, entre outras coisas não muito bem esclarecidas, solicitavam a redução da segurança no Campus através da saída das rondas da Policia Militar do local.

Nessa história toda, muitas coisas me deixaram preocupado e triste. Entre elas:
Preocupado por ver “potenciais futuros bons profissionais” agindo de forma completamente alheia ao que se pode classificar de “comportamento inteligente”.
Preocupado por ver um outro grupo, composto por ingênuos, apoiar a insensatez da primeira minoria.
Triste por ver que o nosso imposto, aquele que paga os custos de cada uma das vagas em universidades públicas, está sendo investido em pessoas que não merecem ocupá-las, enquanto muitos outros, que certamente fariam tudo para merecê-las pela forma e comportamento corretos, assistem tudo do lado de fora do Campus, indignados pela injustiça, por não terem a chance de usar aquela vaga.
Preocupado por ver que o sensacionalismo dá muito mais ouvidos à minoria sem noção de responsabilidades e deveres do que à grande maioria sensata de alunos, pais, funcionários e professores que respeita as leis e aplaude a maior presença no Campus da Policia Militar, que, aliás, não tem só o direito, mas o dever de garantir a ordem, proteger e preservar o patrimônio do povo e o próprio povo em todos os locais do estado, principalmente nas organizações sob a responsabilidade direta do governo.
Triste por ver que, ao que parece até o momento (e espero que eu esteja errado), em vez de uma atitude punitiva exemplar das autoridades, a lição a ser “aprendida” e que será transmitida para todos os brasileiros é, mais uma vez, como em tantos outros episódios infelizes no país, que “as leis são desusadas pelo interesse de poucos” e não usadas pelo interesse da maioria da nação, que é quem paga os custos, repito, no final das contas.
Preocupado por comprovar que, também nesse caso, aquele “princípio natural” (lembra-se dele?) prevalece: mais conforto, menos energia; mais direitos, menos deveres; mais liberdade, menos responsabilidades; mais “esperteza”, menos trabalho...
Triste por saber que em sociedades mais desenvolvidas, onde cidadãos cumprem todos os seus deveres antes de pedir algum direito e aceitam completamente as responsabilidades que vêm com a liberdade, a tendência ruim de comportamento causada por aquele “princípio natural” é vencida por algo simples e efetivo chamado “maturidade”, que se adquire pelo exemplo e pela vivência com disciplina... e isso é o que ainda ficamos por ver nesses casos aqui no Brasil, infelizmente. 

Colunista:
Professor Marcos Pontes
Primeiro Astronauta Brasileiro

Nascido em Bauru, SP, em 1963, Marcos Pontes atualmente é Astronauta à disposição do Brasil, aguardando a escalação pelo governo para seu segundo voo espacial, é Palestrante Motivacional, Coach Especialista em Performance e Desenvolvimento Profissional, Mestre em Engenharia de Sistemas, Engenheiro Aeronáutico pelo ITA, Professor e Pesquisador convidado do Instituto de Estudos Avançados da USP-SC, Diretor Técnico do Instituto Nacional para o Desenvolvimento Espacial e Aeronáutico, Empresário, Consultor Técnico, Embaixador Mundial do Ensino Profissionalizante, Presidente da Fundação Astronauta Marcos Pontes e Autor de dois livros: “Missão Cumprida. A historia completa da primeira missão espacial brasileira” e “É Possível! Como transformar seus sonhos em realidade”, publicados pela editora Chris McHilliard do Brasil.

Um comentário:

  1. Queria conseguir ficar calada a respeito dos acontecimentos da última semana na USP, mas não consigo. Ao contrário da maioria dos estudantes, não defendo nem um lado nem o outro. Cansei dessa picuinha entre estudantes e PMs. Cansei de generalizações como “PMs são malvados” e “uspianos são maconheiros e baderneiros”. Cansei da pancadaria generalizada. Não sou a favor dos estudantes e muito menos da PM. Sou a favor da PAZ. A partir do momento que ambos os lados partem para a violência, ambos perdem a razão. O que está em jogo realmente a partir de toda essa confusão? A PM age no Campus por autorização e pedido da reitoria. Segundo o governador do Estado, a PM deve estar presente no Campus para manter a ordem em “ações pacíficas, benéficas a todo mundo”. Os estudantes são contra a PM no Campus com a justificativa de que ela é o “braço armado do governo repressor”. Por que o campus da USP, por ser um espaço público, tem que ser tratado diferentemente das demais áreas da cidade? Por que a reivindicação feita é “Fora PM do Campus”? Do modo como as coisas estão sendo feitas e reivindicadas, parece mais um movimento elitista e mimado do que um movimento realmente interessado em discutir os assuntos que afloraram a partir do confronto de quinta-feira: segurança pública e saúde pública. Se a PM deve estar fora do Campus, ela deve estar fora de toda a sociedade. O espaço da Universidade não deve ser privilegiado em detrimento do espaço da CIDADE. Reivindicar a construção de uma sociedade mais justa não é guerrear por privilégios dentro do Campus. Se a PM é repressora dentro do Campus, ela também o é fora do Campus. Se os universitários não merecem as ações repressoras, NENHUM cidadão merece ações repressoras. Se a PM reprime e violenta em vez de proporcionar tranqüilidade e segurança, a questão não é “PM fora do Campus”, e sim “NÃO QUEREMOS OPRESSÃO, QUEREMOS UMA REFORMA NA SEGURANÇA PÚBLICA”. Sou contra a opressão, sou contra o elitismo. Além de ser a favor da PAZ, sou a favor da IGUALDADE DE DIREITOS para criar uma SOCIEDADE MAIS JUSTA...

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