sábado, 12 de novembro de 2011

PARABÉNS ESQUADRÃO CENTAURO!!


Brasil, 10 de Novembro de 2011.

Caros companheiros Centauros,

         Hoje comemoramos mais um aniversário do 3º/10º Grupo de Aviação, o Esquadrão Centauro!

         Há mais de 25 anos, eu recebia a caneca tradicional com o meu nome gravado sob o símbolo do Centauro e assinava com orgulho o nosso livro do Esquadrão ao lado do número 77.
         Eu sou o Centauro 77, e sempre serei, assim como cada um de vocês carregará para sempre essa marca, o seu código Centauro, com orgulho por toda a sua vida, não apenas profissional, mas na essência do que você é como pessoa.

         No início, eu não sabia bem o que eu encontraria por aí. 
         Recém casado, inexperiente na vida e na profissão, eu era repleto de inseguranças e dúvidas; as mesmas que hoje, certamente, figuram na mente de alguns de vocês, recém chegados.
         Tentei fazer o meu melhor, em cada detalhe das tarefas e missões que recebia do esquadrão. 
         Rapidamente aprendi que esse tipo de atitude é parte do espírito que sustenta nossas asas como um dos melhores esquadroes operacionais da Força Aérea.
         É essa atitude que nos faz ter a humildade para saber que existem muitas coisas ainda a serem aprendidas. 
         Ninguém sabe tudo, e é só o conhecimento, buscado dia a dia, que pode nos levar cada vez mais altos na nossa missão de vida. 

         Naqueles anos de Santa Maria, foram tantas missões, tantos dias, tantas decolagens, tantos amigos...
         Muitos estão aí entre vocês, alguns estão espalhados pelo mundo, outros decolaram e nunca mais voltaram. 
         Nesta Base Aérea, entre briefings, serviços, decolagens, operações noturnas, TGX, experiências, voos sobre o mar, combate, tiro-aéreo, mapas, navegações a baixa altura, Gs, bombardeios, acertos, erros, churrascos no quero-quero, sorrisos, suor, lágrimas e saudades dos amigos que se foram, eu aprendi outra parcela da atitude do Centauro: Confiança e Lealdade.
         Essas são características que nos fazem voar juntos, todos voltados para o objetivo comum, mesmo com toda a antiaérea tentando nos impedir; é isso que nunca nos permite deixar alguém, um amigo, para trás. Sabemos que podemos confiar na amizade, na garra, na competência e na lealdade dos nossos companheiros de esquadrilha. Eu colocaria meu avião entre o tiro do inimigo para proteger meu ala, meu lider, meu amigo. E sei que vocês todos fariam o mesmo. 
         Saibam que a antiaérea da vida é intensa. 
         Um dia, tempos depois de deixarem o esquadrão, tenham certeza de que confiança e lealdade serão responsáveis pelo seu sucesso perante as suas maiores adversidades.

         Também passei momentos dificeis por aí. Pressões, panes, fogo, ansiedade, injustiça, stress, medo, etc. Foi preciso coragem para manter minhas posições e valores firmes, mesmo diante da pressão que às vezes tentam te forçar a aceitar conceitos incorretos. Foi preciso coragem para enfrentar o monstro do medo em suas várias faces, de fogo a opiniões. Companheiro Centauro, sinta medo, seja criticado, mas faça o correto, sempre, mesmo assim! Coragem: essa é também uma parte da atitude do Centauro.

         Mas também havia o cenário... 
         Ah! Que cenários magnificos que essa carreira nos brinda. A esquadrilha subindo, perfurando o colchão branco de nuvens no amanhecer do dia, o sol refletindo no mar... à noite, a Lua, imensa, brilhante, quase ao alcance das mãos, nas interceptações noturnas com o céu claro coalhado de estrelas.
         Nesses momentos eu lembrava do meu sonho. O mesmo que eu tinha quando era menino em Bauru, trabalhava como eletricista aprendiz para ajudar no orçamento de casa, ia ao aeroclube ver a esquadrilha da fumaça e deitava no telhado à noite, olhando para as estrelas.
         O mesmo coração bate acelerado, da mesma forma, ao lembrar dessas coisas e dizer: eu vivi o meu sonho, e ainda vivo... dia a dia.
         Amigos, aproveitem o momento... a maravilha de viver... hoje!
         Vivam o seu sonho hoje. Aquele que vocês sonharam quando crianças. Não vivam pensando só no futuro, ou no passado, vivam hoje! Vivam cada segundo com intensidade, cada momento é precioso com seus filhos, esposas, pais, mães, amigos... Viva cada detalhe, por mais simples que lhe pareça. Essa, afinal, é a única coisa que cabe no pequeno bagageiro na nossa cabine para o grande voo final..

        Nos meus dias de espaço, o Espírito do Centauro estava comigo, dentro do peito, em cada momento, entre a Terra e as estrelas.

         Nós, os Centauros, mudamos a letra da canção da caça: não é mais de zero a setenta mil pés... É de Zero a mais de um Milhão de pés de altitude!

         E parou por aí? Claro que não! Ainda existem muitos sonhos a serem conquistados. 
         Eles são essenciais para que vivamos felizes e com propósito.
        
         Assim...

         Caros amigos Centauros, sonhem muito, sonhem alto, sonhem sempre... e SEMPRE ACREDITEM nos seus sonhos. 
         Acreditar nos sonhos: essa é a outra parcela da atitude do Centauro!
         E eu acredito no sucesso de cada um de vocês!

A La Chase!!

Pontes
Centauro 77

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

DIAS DE POUCA EDUCAÇÃO NO CAMPUS...


Liberdade e Responsabilidade

Professor Marcos Pontes
Astronauta Brasileiro

Sejamos didáticos. Comecemos por um princípio natural. Sabe aquelas leis do universo às quais tudo e todos estamos sujeitos, sempre? Coisas como a atração gravitacional e a tendência dos sistemas naturais procurarem por um ponto de equilíbrio estável, sempre com a menor energia possível? Pois é! Leia a frase anterior novamente e observe que essa segunda lei, a que fala sobre a energia, é perfeitamente aplicável ao comportamento humano! Aliás, a inserção do homem e seu comportamento nos ciclos e princípios da natureza é um assunto magnífico para acalentar pensamentos mais saudáveis e conceituações teóricas nos verdadeiros filósofos.
Bem, esse não é o meu caso. Sou engenheiro e penso de maneira prática: simplesmente usemos o tal princípio – nós, humanos, sempre procuraremos por uma situação em que tenhamos um patamar estável, segundo nossas expectativas de qualidade de vida, e com o mínimo gasto possível de energia.
Expandindo a ideia, nos parece “natural” buscar sempre pelos nossos direitos e frequentemente (ou “convenientemente”) “esquecer” dos nossos deveres. Mais ainda, todos querem ter liberdade, mas ninguém quer a tal da responsabilidade.
OK! Com esses conceitos essenciais em mente, vamos a uma outra afirmação, aparentemente sem conexão no momento: não existem “bens do governo”.
Já ouviu algumas pessoas dizerem algo como: “esta é uma escola do governo”?
Isso não existe!
O que existem são “bens públicos”, adquiridos com o percentual retirado continuamente do nosso suado dinheiro, uma contribuição obrigatória de todos nós que trabalhamos e pagamos altos tributos por não fazermos parte de nenhuma “minoria privilegiada”, algumas vezes composta por criminosos, outras por pessoas que se “encaixam” nos critérios de alguma legislação que os “discrimine positivamente” perante o restante dos compatriotas.
Nesse contexto, em que se pesem nossos bens comuns como estradas, pontes, escolas, universidades, etc., as autoridades eleitas, e que constituem o “governo”, são apenas nossos funcionários, representantes temporários do povo, para gerenciar o patrimônio público, evitar que sejam destruídos, mal empregados ou tomados pela força, ou “pelo grito”, de uma ou outra minoria.
Lembrem-se de que um grupo de “solicitantes” não tem nenhum direito de decidir o que será feito com o bem público, de propriedade de 200 milhões de brasileiros.
O que vale não é o que uma ou outra minoria acha que se deve fazer com qualquer dos nossos bens públicos; o que vale é o que o povo do Brasil decide. E, para isso existem as leis e os representantes eleitos! Tudo conforme o previsto. Veja bem, o “governo” não é dono de nada, o povo é. Mas as autoridades eleitas têm o dever de defender o patrimônio do povo de inimigos externos e internos e fazer cumprir as leis. Ponto! Doa a quem doer.
Não é possível governar para atender os interesses de minorias, é preciso atender o interesse da nação como prioridade. Bem diz o ditado: quem quer satisfazer a todos, desagrada a maioria!
Em outras palavras, qualquer pessoa, de qualquer grupo, minoria ou não, deve cumprir as leis, como todos os outros cidadãos.
Pois bem. Agora somando as ideias...
Parte dos recursos dos nossos impostos são aplicados na educação. E o que nós, que somos os “stakeholders” que pagam por tudo isso, esperamos que seja feito com o nosso investimento nos bens e serviços públicos na educação? Isto é, o que o povo (pelo menos a maioria mais inteligente dele) espera que seja feito com todo esse dinheiro investido nas nossas escolas e universidades.
Certamente queremos que o ensino fundamental nas escolas públicas seja de qualidade suficiente para dar às crianças uma boa base de conhecimento nas matérias curriculares essenciais, que servem de fundação para as aplicações profissionais mais específicas; para ajudá-las a compreender seu significado e responsabilidades como indivíduo e cidadão na sociedade; e para contribuir para a preparação emocional necessária para enfrentar as mudanças e decisões comuns da adolescência. Dos alunos das escolas públicas do fundamental, esperamos que estejam nas salas de aula, tenham disciplina e se dediquem com afinco para se tornarem mais “iluminados através do conhecimento de si mesmos e do mundo que os cerca”.
Do ensino médio, queremos que sirva de preparação e direcionamento para as carreiras profissionais a serem desenvolvidas nas universidades. Dos alunos do ensino médio, esperamos que descubram seu potencial e se concentrem no seu desenvolvimento pessoal e profissional... e passem no “tal do vestibular” de alguma universidade pública! Afinal, faz sentido alunos de escolas públicas continuarem em universidades públicas, não faz?
Do ensino superior, queremos pesquisa, conhecimento ampliado, ciência e tecnologia, tudo aplicado ao desenvolvimento do país e à melhoria da qualidade de vida da população, que, repito, paga por tudo isso! Dos alunos das universidades públicas, esperamos que compareçam às aulas, sejam disciplinados e, no mínimo, educados no seu comportamento como hóspedes do nosso patrimônio público; que usem o seu tempo nessas instituições de forma produtiva e objetiva para concluírem de forma eficaz seus cursos (com sucesso e qualidade máximos e tempo mínimo); que se formem bons profissionais, sérios e competentes, para atender às necessidades da nação. Também esperamos que cumpram as leis, dêem o exemplo e preservem o patrimônio pago, repito, com o suor de milhões de brasileiros; que tenham o bom-senso de perceber que estudar em uma universidade pública é um privilégio que muitos estudantes do ensino médio público sonham ter e que a vaga que ocupam, que é uma “concessão” do povo, deve ser usada de forma digna e agradecida, pois não é um direito adquirido e muito menos irrevogável; que não se omitam socialmente, expressando suas opiniões como pessoas inteligentes e se unindo para defender interesses legítimos da maioria da nação, como o fim da corrupção, o voto e a democracia consciente, a igualdade e a liberdade com responsabilidade e respeito às leis, etc.
No infeliz episódio na USP no mês de novembro, disparado por um evento com dois estudantes, envolvendo uso de entorpecentes ainda proibidos pela lei e desenvolvendo-se em protestos contra a gestão da universidade, o prédio da reitoria foi ocupado por uma minoria de alunos que, entre outras coisas não muito bem esclarecidas, solicitavam a redução da segurança no Campus através da saída das rondas da Policia Militar do local.

Nessa história toda, muitas coisas me deixaram preocupado e triste. Entre elas:
Preocupado por ver “potenciais futuros bons profissionais” agindo de forma completamente alheia ao que se pode classificar de “comportamento inteligente”.
Preocupado por ver um outro grupo, composto por ingênuos, apoiar a insensatez da primeira minoria.
Triste por ver que o nosso imposto, aquele que paga os custos de cada uma das vagas em universidades públicas, está sendo investido em pessoas que não merecem ocupá-las, enquanto muitos outros, que certamente fariam tudo para merecê-las pela forma e comportamento corretos, assistem tudo do lado de fora do Campus, indignados pela injustiça, por não terem a chance de usar aquela vaga.
Preocupado por ver que o sensacionalismo dá muito mais ouvidos à minoria sem noção de responsabilidades e deveres do que à grande maioria sensata de alunos, pais, funcionários e professores que respeita as leis e aplaude a maior presença no Campus da Policia Militar, que, aliás, não tem só o direito, mas o dever de garantir a ordem, proteger e preservar o patrimônio do povo e o próprio povo em todos os locais do estado, principalmente nas organizações sob a responsabilidade direta do governo.
Triste por ver que, ao que parece até o momento (e espero que eu esteja errado), em vez de uma atitude punitiva exemplar das autoridades, a lição a ser “aprendida” e que será transmitida para todos os brasileiros é, mais uma vez, como em tantos outros episódios infelizes no país, que “as leis são desusadas pelo interesse de poucos” e não usadas pelo interesse da maioria da nação, que é quem paga os custos, repito, no final das contas.
Preocupado por comprovar que, também nesse caso, aquele “princípio natural” (lembra-se dele?) prevalece: mais conforto, menos energia; mais direitos, menos deveres; mais liberdade, menos responsabilidades; mais “esperteza”, menos trabalho...
Triste por saber que em sociedades mais desenvolvidas, onde cidadãos cumprem todos os seus deveres antes de pedir algum direito e aceitam completamente as responsabilidades que vêm com a liberdade, a tendência ruim de comportamento causada por aquele “princípio natural” é vencida por algo simples e efetivo chamado “maturidade”, que se adquire pelo exemplo e pela vivência com disciplina... e isso é o que ainda ficamos por ver nesses casos aqui no Brasil, infelizmente. 

Colunista:
Professor Marcos Pontes
Primeiro Astronauta Brasileiro

Nascido em Bauru, SP, em 1963, Marcos Pontes atualmente é Astronauta à disposição do Brasil, aguardando a escalação pelo governo para seu segundo voo espacial, é Palestrante Motivacional, Coach Especialista em Performance e Desenvolvimento Profissional, Mestre em Engenharia de Sistemas, Engenheiro Aeronáutico pelo ITA, Professor e Pesquisador convidado do Instituto de Estudos Avançados da USP-SC, Diretor Técnico do Instituto Nacional para o Desenvolvimento Espacial e Aeronáutico, Empresário, Consultor Técnico, Embaixador Mundial do Ensino Profissionalizante, Presidente da Fundação Astronauta Marcos Pontes e Autor de dois livros: “Missão Cumprida. A historia completa da primeira missão espacial brasileira” e “É Possível! Como transformar seus sonhos em realidade”, publicados pela editora Chris McHilliard do Brasil.